Adélia Victória Ferreira de Sete Barras para a poesia nacional 1w134w

O Vale do Ribeira sempre foi um celeiro de escritores, poetas, jornalistas e outros artífices da palavra. No rol desses talentos valerribeirenses, salienta-se a figura inconfundível da poetisa Adélia Victória Ferreira, que teve respeitável projeção nos meios culturais da Capital do Estado.

Adélia Victória Ferreira, de Sete Barras para a poesia nacional
Adélia Victória Ferreira, de Sete Barras para a poesia nacional


Nascida na cidade de Sete Barras (SP), Vale do Ribeira, no dia 17 de novembro de 1929, Adélia era filha do casal João Lucas Ferreira e Olinda de Souza Ferreira, sendo irmã de Lília Maria Ferreira Costa, Judith E. Ferreira Reis e Maurício Lucas Ferreira.

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Por volta de 1937, quando Adélia tinha 7 anos de idade, a sua família se transferiu para a cidade de Mairinque (SP), onde a futura poetisa fez o curso primário.


Adélia começou a trabalhar aos 10 anos de idade. Aos 14 anos, já demonstrando o seu talento para as letras, foi correspondente do jornal “Cidade de S. Paulo”


Em 1948, aos 17 anos, residindo em Mairinque  com a família,  tendo apenas o primeiro grau escolar, Adélia decidiu fugir de casa,  motivada pelo desejo  de  estudar Direito, com o que o pai não concordava. Tabelião,  ele  queria  a filha no cartório, trabalhando a seu lado. Sem auxílio de quem quer que fosse, Adélia venceu, com muito esforço e dedicação, as vicissitudes que se colocaram em seu caminho. 


Várias fases de Adélia: mocidade, maturidade, velhice.
Várias fases de Adélia: mocidade, maturidade, velhice.



A ADVOGADA




Estudando por conta própria, desde a adolescência, Adélia fez o Curso Clássico no Colégio São Joaquim, em São Paulo, formando-se em Latim, Grego, Espanhol, Inglês e Francês.


Cursou o Ginásio e o Colégio também em São Paulo. Depois de muito estudo, conseguiu ar no vestibular de Direito da Faculdade do Largo de São Francisco (Universidade de São Paulo), realizando, assim, o grande sonho de sua vida.  Iniciando o curso em 1952, aos 23 anos de idade, Adélia bacharelou-se em Direito, num dos primeiros lugares, com a turma de 1956, colando grau no dia 23 de janeiro de 1957.


Entre os colegas de Adélia elencavam-se alguns jovens que, mais tarde, teriam grande destaque nos cenários paulista e nacional: Luiz Carlos Santos (1932-2013), advogado, ministro e articulador político; Rubens Approbato Machado (1933-2016), advogado tributarista; Mário Chamie (1933-2011), advogado e poeta, criador da poesia práxis; Umberto Luiz D´Urso (1925-2014), advogado e professor, pai de Luiz Flávio Borges D´Urso, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-São Paulo.


Por seu destaque na Academia, Adélia foi contemplada com uma bolsa de estudos de três meses na Alemanha Ocidental, com visitas às universidades das cidades de Colônia, Bonn, Frankfurt, Darmenstad e Hidelberg.


Ao mesmo tempo em que estudava, Adélia  se desdobrava em vários empregos. Por dez anos, trabalhou na televisão e no teatro como atriz dramática, apresentadora, locutora etc.  


Trabalhou também na Aeronáutica e no Jockey Club de São Paulo, como secretária da diretoria, e depois como procuradora jurídica.


Em 1969, numa volta ao mundo, conheceu vários países: França, Tchecoslováquia, Rússia. Estados Unidos, Japão, China, Hong Kong, Tailândia, Índia, Irã, Turquia, Grécia e Itália. Viajou também à Argentina e Uruguai. Na Rússia, dançou dentro do Kremlim.


EMANCIPAÇÃO DE MAIRINQUE


Adélia Victória Ferreira participou ativamente da emancipação de Mairinque (SP), cidade onde viveu a infância e adolescência. A primeira comissão pró-emancipação foi criada em 1950, presidida pelo cidadão Victorino Viliotti. Faziam parte dessa comissão, entre outros Gastão Bussamara, Maurílio Pereira de Araújo, João Chesine, João Lucas Ferreira (pai de Adélia) e Arganauto Ortolani.


O deputado Lino Matos, ligado politicamente a São Roque (SP), trabalhou junto à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, mas, apesar do empenho realizado pela Comissão de Emancipação, da qual participava ativamente Adélia Victória Ferreira, a pretensão mairinquense foi derrotada, com 22 votos a favor e 32 contrários. Somente em 27 de dezembro de 1958 foi aprovado o projeto que criava 67 novos municípios, inclusive o de Mairinque.


Finalmente, com a Lei Estadual nº 5.285, de 18 de fevereiro de 1959, Mairinque foi elevada à categoria de município. Em 4 de outubro daquele mesmo ano ocorreram as eleições municipais para o mandato de 1960 a 1963. Para prefeito elegeu-se Arganauto Ortolani, tendo como vice José Francisco dos Santos (Zé Enfermeiro).


Para vereadores, os eleitores do novo município escolheram: João Lucas Ferreira (pai de Adélia Victória Ferreira), Luiz Zaparolli, Severino Simões de Almeida, Waldemar Pereira, Abel Souto, Antonio Cesar Netto, Ataliba da Silva, João Chesini, José Angelini, Orlando Silva e Raul Cavalheiro. O vereador João Lucas Ferreira foi eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de Mairinque, para o biênio de 1960-1961.


TEATRO


Quando ainda fazia faculdade, Adélia  trabalhava em quatro canais de TV:  Paulista  (hoje Globo), Tupi, Record e Cultura. Como atriz dramática, estreou em “A Bela e a Fera”, com o conhecido ator Dionísio Azevedo (1922-1994).


Adélia teve atuante participação no Departamento de Teatro do Centro Acadêmico XII de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que encenou várias peças teatrais.


Em 13 de junho de 1953, estreava a pela “Eu já estive lá”, do dramaturgo americano John Boynton Priestley (1894-1984), com tradução de Daniel Rocha. Do elenco, participavam, além de Adélia Victória Ferreira, também Angélica Milena, Gildásio Pereira, J. J. Tanus, Paulo Hildebrando Barbosa e Rodrigo Rodrigues de Moraes. Direção de Evaristo Ribeiro, com cenários de Clóvis Garcia.


Em abril de 1955, era encenada a peça “Rosmersholm”, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo. A produção foi do Departamento Teatral da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com direção de Evaristo Ribeiro. No elenco, Adélia Vitória Ferreira (que interpretou a personagem Rebeca West), Ophélia de Almeida, José Carlos Viegas, Sérgio Salém, Amim Abujamra e José Pacheco.


“Rosmersholm”, escrita e publicada em 1886, foi representada pela primeira vez em 17 de janeiro de 1887, no Den Nationale Scene, em Bergen, Noruega. Em 1893, voltou a ser representada no Théâtre de l’Oeuvre de Lugné-Poe, em Paris, transformando-se em representante do movimento simbolista francês. A encenação de 1955 foi a primeira apresentação dessa peça no Brasil.


O crítico teatral Mattos Pacheco, em sua coluna “Ronda”, do “Diário da Noite”, de São Paulo, em sua edição nº 9.290, de 27/4/1955, mesmo reconhecendo as deficiências da montagem da peça e das interpretações, escreveu que é “forçoso reconhecer que o fato de estudantes de Direito se animarem a fazer teatro, fazer logo Ibsen, mostra coragem, decisão, interesse por um Teatro de verdade, com T maiúsculo.”


Mattos Pacheco reconheceu a performance de Adélia: “Dos intérpretes, pelo menos uma, merece destaque especial, Adelia Victória foi quem mais se aproximou da sua personagem.” E concluiu: “Os estudantes de Direito estão de parabéns, não pelo ´Rosmersholm´ que fizeram, mas pela coragem, quase audácia, de montar Ibsen e se disporem a fazer Teatro. Devem continuar.”


A POETISA


Desde a infância Adélia escreveu poesias. Durante muitos anos publicou a sua produção poética nos jornais “Gazeta de Pinheiros”, “Gazeta do Butantã”, “O Dia”, “Diário Popular”, “Voz da Poesia” (do Movimento Poético Nacional) e “Fanal” (da Casa do Poeta de São Paulo, que dirigiu por vários anos).


Em 1978, publicou o seu primeiro livro, “Cantos de Amor à vida”, no qual reuniu todos os poemas que escreveu desde aos dez anos de idade. Não fez questão de que o seu livro de estreia fosse prefaciado por um notório poeta, por considerar ser constrangedor um pedido de tal natureza. Preferiu o julgamento “dos que, lendo a sua mensagem, venham a encontrar ou não alguma similaridade com seus próprios sentimentos e com a maneira com que os traduziram por escrito”, conforme lê-se na orelha do livro.


Após se aposentar em 1977, Adélia ou a dedicar-se inteiramente à poesia, arte que cultivava desde a mais tenra idade. 


Em 1973, escreveu o “Hino à Lapa”, com música do maestro Victor Barbieri.


Em 1980, ao conhecer o poeta e trovador Izo Goldman (1932-2013),  a poetisa estendeu o seu amor pelo soneto também à trova.  Adélia é considerada uma das maiores sonetistas brasileiras, além de exímia trovadora. 


Em 1983, escreveu o “Hino da Universidade Federal de Uberaba” (MG). Do concurso, participaram onze concorrentes, não havendo, no entanto, premiação.


Adélia pertenceu a inúmeras academias de letras nacionais e estrangeiras, sendo laureada com comendas, medalhas, troféus e diplomas honoríficos, além de centenas de prêmios literários. Foi uma figura de destaque em muitas antologias poéticas, jornais, sites e blogs.


Fez parte da Casa de Francisca Júlia e da Academia Eldoradense de Letras, entidades culturais fundada em 1978 pelo poeta João Mendes em Eldorado (SP). Na ocasião, Adélia declamou a fantasia poética “Reportagem sobre Francisca Júlia e sua terra” na inauguração da Casa de Francisca Júlia; e, também, o poema “À terra de Francisca Júlia” na inauguração da Academia Eldoradense de Letras.


CASA DO POETA

Presidentes da Casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo: Da esquerda para a direita: Aristóteles Lacerda Jr, Wilson de Oliveira Jasa, Adélia Victória Ferreira e Antônio Lafayette Natividade Silva.
Presidentes da Casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo: Da esquerda para a direita: Aristóteles Lacerda Jr, Wilson de Oliveira Jasa, Adélia Victória Ferreira e Antônio Lafayette Natividade Silva.



Em 7 de novembro de 1948, a poetisa Colombina, pseudônimo de Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein (1882-1963) e um grupo de poetas, fundaram a Casa do Poeta “Lampião de Gás”, considerada a mais antiga associação de poetas das Américas.


A entidade teve como presidentes desde então: Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein (1948-1963); Bernardo Pedroso (1965-1971); Antônio Lafayette Natividade Silva (1972-1977); Benevides Beraldo (1977-1979); Adélia Victória Ferreira (1979-1987); Aristóteles de Lacerda Júnior (1987-1989); Walter Rossi (1989 -2001); e Wilson de Oliveira Jasa (desde 2001).


Adélia presidiu a Casa do Poeta de 1979 a 1987. Após quatro mandatos sucessivos, renunciou ao cargo, sendo eleita presidente emérita e de honra da entidade.


CINQUENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1932


Em comemoração ao cinquentenário da Revolução Constitucionalista de 1932, o Museu da Imagem e do Som (MIS), de São Paulo, em 21 de julho de 1982, convidou várias personalidades para prestarem depoimento sobre o evento. Entrevistados pelo jornalista Augusto Benedito Galvão Bueno Trigueirinho, além de Adélia Victória Ferreira, participaram também Arnaldo Caleiro Sandoval, Pedro Oliveira Ribeiro neto e Léa Surian.


Adélia falou de sua infância em Sete Barras, de onde saiu com a família aos 7 anos de idade para irem morar em Mairinque (SP). Neta de agricultores de arroz, banana e cana-de-açúcar, filha de um pai que desistiu de sua herança para se transformar em um tabelião, que era o sonho da vida dele.


Adélia recordou-se de quando, aos três anos de idade, esvaziaram a igreja matriz de todos os seus santos para os guardarem em sua casa, a maior da cidade, para que os revolucionários fossem abrigados no templo. Em frente à sua casa, havia trincheiras, e essas imagens foram tão fortes que, apesar de sua pouca idade, ficaram gravadas em sua mente.


Aos cinco anos, quando o pai lhe perguntava o que ela queria ser quando crescer, a menina respondia: “Papai, eu quero ser advogada, eu quero ser doutora em Direito!”, apesar de não saber o que era isso. Ao que o pai voltava a perguntar: “Mas por que, minha filha?”. Adélia respondia: “Para defender o pobre contra o rico!”. E defender o pobre contra o rico era algo que ia contra a sua família, a mais abastada da cidade. Mas não era isso que Adélia queria dizer: ela queria defender os que não tinham forças contra aqueles que têm o poder, referindo-se, simbolicamente, aos revolucionários, que eram destituídos de armas e munições e de condições para lutar contra o governo de Getúlio Vargas, usando a sua inventividade para assustar o inimigo, que possuía todas as armas, “para vencer uma revolução que foi feita pelo coração e pela alma”.


Como pretendia deixar o seu cartório para a filha, o pai não permitiu que Adélia fizesse sequer o curso ginasial, temendo que ela seguisse o caminho que desejava. Sendo assim, a jovem, com apenas 17 anos, fugiu de casa e, em São Paulo, fez o curso de madureza, para, depois, frequentar o Colégio Roosevelt e ingressar na tão sonhada Faculdade de Direito. Assim foi a sua juventude, sempre baseada no ideal de dignidade humana do povo paulista, ideal que nasceu quando ela tinha apenas três anos de idade vendo as lutas da Revolução de 1932.


Por ocasião do depoimento, o jornalista Bueno Trigueirinho considerou AdéliaVictória Ferreira “a primeira dama declamadora de São Paulo, que aquecia os nossos corações quando fala, quando põe toda a sua alma dizendo essas coisas tão bonitas que São Paulo tem, a nossa poesia dos nossos grandes poetas.”


Com a sua voz firme e a dicção perfeita, Adélia declamou o poema “MMDC”, de sua autoria, em homenagem aos jovens que tombaram pela defesa dos ideais constitucionalistas:


MMDC


Miragaia, Martins, Dráusio, Camargo.

A história é assim

Não só a nós agora interessa.

É a história paulista escrita em sangue

E em nome de complexos ideais:

Democracia, constituição.

Fanais da liberdade,

únicos trilhos de qualquer paz,

qualquer prosperidade.

Martins, tua seiva corre em nossas veias.

Tu, Miragaia, louros depuseste

sobre a dignidade dos paulistas

Dráusio, implantaste em nossas mentes

a flama das intenções sadias

que baseiam o natural caráter firme e nobre

da brava gente de Piratininga,

que apenas dobra os joelhos reverentes

aos céus e àquele santo,

o padre Anchieta,

que a nossa história e Deus alicerçou.

Gente que aspira sempre ver brilhar,

no supremo concerto das nações,

este Brasil que, graças ao seu sangue,

suor, lágrimas, lutas e bandeiras,

com trépida bravura, transformou

num gigante a abarcar um continente.

Camargo exulta, ainda perseguimos

a mesma meta que nos apontou

o teu espírito audaz e democrático.

A nossa fibra se retesa diuturnamente

num labor constante,

mantendo sempre a aspiração que atua.

Tu, Alvarenga, ergue-te do olvido,

também tu deves repousar

no túmulo do herói reconhecido.

MMDC

A história é assim

E a história paulista, escrita em sangue

e em nomes de complexos ideais:

Democracia, constituição.

E agora vejam, heróis,

ela interessa não só a nós,

mas ao País inteiro quando

o edifício em que acomodou

o resto da nação tende a ruir em súbita implosão.

Mas São Paulo, paternal, estende as mãos,

como sempre estendeu,

para acudir a grandeza da Pátria.

E, agora, finalmente, vai se compreender

que a límpida razão estava com vocês,

e ao bandeirante, é certo, como sempre,

há de caber o peso maior,

mais exaustivo e desgastante

do pesadelo da reconstrução.


(Aplausos)


TURMA DE 1956: JUBILEU DE OURO


Para comemorar o Jubileu de Ouro da Turma de 1956, a Ordem dos Advogados do Brasil, de São Paulo, promoveu, em 20 de outubro de 2006, uma confraternização com os ex-alunos remanescentes.


O evento solene foi realizado no auditório da CAASP, em São Paulo. Participam da cerimônia toda a Diretoria da OAB/SP e da CAASP, além do então diretor da Faculdade de Direito da USP, professor João Grandino Rodas.


“A Turma de 1956 era numerosa, unida e animada. Resultou em grande número de advogados militantes”, ressaltou Rubens Approbato Machado, para quem não havia diferença entre advogar com um ou 50 anos de carreira.


Entre os homenageados estavam o ex-secretário municipal da Cultura e poeta, Mario Chamie; o ex-senador Pedro Franco Piva; o ex-deputado federal e ex-secretário dos Negócios Metropolitanos, da Habitação e Desenvolvimento Urbano e de Energia e Saneamento do Estado de São Paulo, e ex-ministro da Coordenação de Assuntos Políticos do presidente FHC, Luiz Carlos Santos; e dois ex-conselheiros seccionais, Samuel Sinder e Jayme Vita Roso. Os homenageados receberam placas alusivas à comemoração do Jubileu de Ouro e participaram de um almoço.


Depois de uma vida plena, inteiramente dedicada ao Direito, às artes e à literatura, Adélia Victória Ferreira faleceu no dia 13 de março de 2018, aos 88 anos.


LIVROS PUBLICADOS


                                                
Livros de Adélia Victória Ferreira.
Livros de Adélia Victória Ferreira. 




Durante a sua longa vida,  Adélia Victória Ferreira produziu centenas de sonetos e trovas, dispersos em antologias poéticas e sites literários. Publicou três livros:


Cantos de Amor à Vida” (Edição do Autor, 1978) – Em seu livro de estreia, Adélia Victória Ferreira reuniu 104 poemas, escritos desde os 10 anos de idade. O livro é dividido em 6 partes: I - Introito (1 poema); II - Amor (24 poemas); III - Vida (19 poemas); IV - Deus (8 poemas); V - Homem (20 poemas); e IV - Pátria/Lar (32 poemas). Predominam sonetos, encontrando-se também algumas trovas e poemas em quartetos. Adélia revela o talento que a projetaria como uma das melhores sonetistas brasileiras.


 “Poesias ao Sol” (Edição do Autor, 1984) – Neste segundo livro, Adélia Victória Ferreira divide espaço com o poeta Hélio José Déstro, também membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”, que publicou o maior número de poemas do livro (102 composições), de diferentes formas. Adélia participou com 26 poemas, incluindo a seleção “Choque de Antíteses em Campo de Sonetos”, com o subtítulo “15 sonetos que dialogam sentimentos humanos, opostos entre si, cabendo, a cada um, um quarteto e um terceto intercalados; ao final de cada terceto são declaradas as respectivas identidades.” Essa seleção seria republicada em seu livro seguinte.


 “Catálise - Trovas e Sonetos” (Edição do Autor, 1985) – A primeira parte do livro reúne as trovas premiadas de Adélia Victória Ferreira. De acordo com o inventário inserido no início do livro, de 1980 a 1984, a autora foi vencedora de 14 concursos poéticos; ficando em 2º lugar em 3 concursos; em 3º lugar em 3; em 4º lugar em 1; em 6º lugar em 1; e recebendo 24 menções honrosas, 12 menções especiais e 1 menção temática. A segunda parte reúne uma seleção de sonetos, incluindo  15 sob o título “Coroa de Sonetos”, com o subtítulo “Tema: Redenção pela Vida”. Na terceira parte, são republicados os sonetos “Choque de Antíteses em Campo de Sonetos”, do livro anterior. Na quarta parte, o “Rosário de Anchieta”, composto de 11 sonetos “inteiramente baseados no livro biográfico ´Anchieta O Apóstolo do Brasil´, do padre Hélio Abranches Viotti, S. J., a quem esse rosário foi dedicado.”


ANTOLOGIAS POÉTICAS


Dentre as inúmeras antologias que Adélia Victória Ferreira participou, destacam-se:


- “Anuário de Poetas do Brasil”, 1979, 1980, 1981, 1982 e 1983.


- “O Encanto das Trovas” - Tomo IV - Estado de São Paulo - Vol. 4.


- “Concurso Nacional de Trovas”, da UBT, Ribeirão Preto, 1999.


- “Antologia Poética de Pinheiros” - Vol. VIII, Scortecci Editora, 1990.


- “Trovas de Velhice” -  Editora Guararapes EGM, 2016.


- “Florilégio de Trovas”, nº 2, maio/2017, organização: José Feldman, Maringá (PR).


- “70 anos da Casa  do Poeta Lampião de Gás”, 1948-2018”, Jasa Produções Editora, 2018.


PRÊMIOS


Dentre as dezenas de prêmios e honrarias conferidos a Adélia Victória Ferreira, destacam-se:


- 1º lugar no Concurso Interno da União Brasileira de Trovadores (UBT) - 1982;


- 1º lugar no III Jogos Florais do Rio de Janeiro (RJ), ganhando também duas menções honrosas - 1982;


- 1º lugar no I Concurso Nacional de Trovas de Mauriceia (PE) - 1982;


- 1º lugar no Concurso Nacional de Macaé (RJ) - 1983;


- 1º lugar no II Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1983;


- 1º lugar no I Concurso Nacional de Trovas de São Paulo (SP) - 1983;


- 1º lugar no II Concurso de Trovas de Vila Isabel, Tijuca e Grajaú (RJ) - 1984;


- 1º lugar no II Concurso Interno da UBT-SP, recebendo também menção especial - 1984;


- 2º lugar no IV Jogos Florais de Caçapava (SP) - 1983;


- 6º lugar no V Jogos Florais de Alegre (ES) - 1984;


- 1º lugar nos Jogos Florais de Campos (RJ) - 1984;


- 3º lugar no Concurso de Trovas do Grupo Literário e Artístico Antônia de Castro, Ilha do Governador (RJ) - 1985;


- 5º lugar no VIII Jogos Florais de Resende (RJ) - 1987.


- Co-vencedora do Concurso de Trovas de Rio Novo (MG) - 1992.


- 1º lugar  no II Concurso Assoc. R. F. Vilas de Portugal, São Paulo - 1992.


- 3º lugar no Concurso de Trovas de Nova Friburgo (RJ) - 1993).


- 9º lugar no Concurso Nacional de Trovas da UBT - 1999.


- 1º lugar no Concurso de Trovas de  Nova Friburgo (RJ) - 2002.


MENÇÕES HONROSAS E ESPECIAIS


- Menção especial no Concurso de Trovas do Consulado de Portugal em São Paulo e União Brasileira de Trovadores (UBT) - 1981;


- Menção especial no I Jogos Florais de S. Bernardo do Campo (SP) - 1981;


- Menção honrosa no Concurso de Trovas da UBT - Região Sul - Santos (SP) - 1981;


- Menção honrosa no Concurso de Trovas Esporte, Nova Iguaçu (RJ) - 1981;


- Menção honrosa nos Jogos Florais de Santos (SP) - 1982;


- Menção honrosa no III Concurso de Trovas da Associação de Cultura Luso-Brasileira de Juiz de Fora (MG) - 1982;


- Menção honrosa no I Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1982;


- Menção honrosa no III Concurso Nacional de Trovas do Clube dos Trovadores de Vila Velha (ES) - 1982;


- Menção honrosa do I Concurso de Trovas da Drogazeta e UBT-SP - 1982;


- Menções honrosas nos IV Jogos Florais de Sete Lagoas (MG) - 1982;


- Menção especial no XVI Jogos Florais de Niterói (RJ) - 1983;


- Menção honrosa no Concurso Interno da UBT-SP - 1983;


- Menção honrosa no I Concurso de Trovas “Artesanato Paulista da SUTACO-SP” - 1984;


- Menção especial no I Concurso Nacional de Trovas do Elos Club de S. Paulo - 1984;


- Menção especial no II Concurso Interno da UBT-SP - 1984;


- Menção honrosa no II Concurso Nacional de Trovas de São Paulo - 1984;


- Menção especial no III Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1984;


- Menção honrosa no IV Concurso Nacional de Trovas da UBT, Natal (RN) - 1984;


- Menção especial no Concurso Primavera - Praia Flores, da UBT, Santos (SP) - 1984;


- Menção honrosa no III Jogos Florais de S. Bernardo do Campo (SP) - 1984;


- Menção honrosa no I Jogos Florais de S. Jerônimo da Serra (PR) - 1985;


- Menção honrosa no Concurso Nacional de Trovas da Irmandade Antialcoólica de Niterói (RJ) - 1985.


- Menção especial no Concurso de Trovas de Niterói (RJ) - 1986.


- Menção especial no Concurso de Trovas de São Paulo (SP) - 1986.


- 4ª Menção honrosa  no VII Concurso de Trovas de Taubaté (SP) - 1988.


- Menção honrosa no XVI Concurso Nacional de Trovas do Rio Grande do Norte - 1996.


SONETOS


Adélia Victória Ferreira cultivou o soneto como forma superior de expressão poética, sendo considerada uma das melhores sonetistas brasileiras. Selecionamos alguns sonetos de sua vasta produção:


O tempo e a gente


Senhor, estrelas nascem na espiral do espaço,

Enquanto, agonizantes, outras mais se apagam;

Este universo imenso, em rápido como,

Galáxias, volteando, estuando, circunvagam.


É imenso teu reinado, fértil teu regaço!

Imersas no Infinito, estrelas nos afagam

Os sonhadores olhos num total abraço

E calam nos mistérios em que eles divagam...


Senhor, nós, – pobres seres de espiral tão breve

No tempo de viver, – que somos nós no acerto

Das contas, afinal? É tolo o que se atreve


Julgar, sobre os iguais, pairar na humana estrada

Pois vê que, nesse eterno e sideral concerto,

Milhoes de sóis no negro vácuo somam: Nada!


(De “Cantos de Amor à Vida”, 1978)


***


O rosário de Anchieta (I)


Era uma vez... Trajando uma batina preta,

Arcado o torso magro, em curva atestatória

Da prece... um jesuíta, um padre... era Anchieta;

Surgiu logo no albor da brasileira história.


Viveu fugindo, sempre, aos toques de trombeta

Que, em sua milagrosa e humana trajetória,

Devia receber dos homens. A faceta

Mais radiante nele era furtar-se à glória.


Foi piedoso e santo e foi, também, o filho

De Deus, cuja mansão, edênica, inefável,

Aos índios descerrou. Quem da Virgem o brilho


Em versos exaltou... Mas, servo da humildade,

Insistia em fazer calar, irrecusável,

Os testemunhos mil de sua santidade...


(De “Catálise”, 1985)


***


Amor que não tem preço


Depois que te perdi, só depois, mãe querida,

Notei que me fugira um bem que não tem preço,

O maior bem do mundo, o melhor desta vida,

E, se um dia existiu igual, não o conheço.


Ternura ardente e casta, oculta em manto espesso

De preocupações, quando não, diluída

Nesse olhar, cujo certo e único endereço

É seu filho, que a fez vaidosa ou mais sofrida.


Depois que te perdi, só depois... (como forço

O espírito a afastar a constante tortura!...)

É que a mente me invade um dorido remorso


De não ter, junto a ti, quando então me fitavas,

Com mil beijos provado esta minha ternura,

Num reflexo do amor imenso que me davas!


(Blog O Secular Soneto)


***


A grande dúvida


Levado pela vida aos trancos e barrancos,

A defrontar um vento eterno a desfavor,

Tentando, desde a infância a meus cabelos brancos,

Tirar do mal um bem, do frio algum calor;


Numa existência dura, a duros solavancos,

Levado à frente só por íntimo valor

Para enfrentar marés contrárias e aos arrancos

Que imprimem atração a tração ao o vencedor,


Indago-me ao deixar para trás este mundo,

Ao despir-me do corpo, ao fim, perdido o alento,

Para enfrentar, lá em cima, aquele olhar profundo


A prometer-me paz, à luz da eternidade,

Eu que, senti prazer nos vãos do sofrimento,

Será que tendo paz, terei felicidade?...


(Fanal)


***


A Árvore e o Homem


...E Deus me disse: Nascerás primeiro,

Serás o ar, o teto, o alimento

Daquele que meu filho verdadeiro

Receberá de ti todo o sustento!


E tu vieste e que contentamento

Em te ofertar, pelo planeta inteiro,

Calor, pão, vinho, teto e desse alento

De que és, para viver, prisioneiro!


Porém... trocaste a vida natural,

Que me ligava a ti, pelo veneno

Da vida poluída artificial . . .


E, hoje... destruidos, os meus restos somem

Por toda a terra . . . E meu adeus te aceno.

Mas... que será de ti, sem mim, pobre Homem...?


(De “Poesias ao Sol”, 1984)


***


Tempo Presente


– Discutir o Presente? É falar de utopia!

Ele é simples bocal de acanhada abertura

Que a matéria do Tempo, em veloz travessia,

Do Futuro ao ado, esfaimada perfura!


O lampejo fugaz de uma luz fugidia

É esse vulto que a e ando fulgura,

Ao tomar-se um “já fui” na roldana macia

Que impulsiona ao ado a existência futura.


Ao dizeres “eu sou!”, já não és! Terás sido!

O que foste partiu nos embalos da voz,

Mero “z” de um corisco entre o antes e o após...


Na ampulheta, é o gargalo, o funil reduzido

Que as areias do Instante, ansiando viver,

Atravessam fulgindo e... deixando de ser.


(Blog Singrando Horizontes, 2019)


***


Até um dia, Rute!


À memória de Rute Miranda Sirilo


Repousaste, querida, e Deus te abriu os braços

E disse: Rute, vem! Tua taça de dor

Esgotaste. Da Terra solta, agora, os laços,

E vem provar, nos céus, do meu imenso amor!


Foste pura e bondosa e meiga. Nos teus os,

Por todo teu viver, teu fraternal calor

Fluindo, em outras almas, espalhou seus traços,

Banhando teu redor de encanto e dulçor.


Sofreste muito, eu sei, no terminal da estrada.

É a dívida terrena. E é paga pelo justo

Para alcançar depressa a celestial morada.


Aquele que a um sofrer acerbo, assim confranjo

É o que há de se instalar junto a teu rosto augusto.

Vem filha! Foste santa. Aqui, serás um anjo!


(Jornal “Alto Madeira” [de Rondônia], nº 14.463, 6/3/1983)


HINO À LAPA


Em 1973, Adélia Victória Ferreira escreveu a letras do “Hino da Lapa”, com música do maestro Victor Barbieri:


Sou a Lapa, guardiã do ado
Onde o tempo parece parar.
Num presente ele é aqui transformado
Nas lembranças que o fazem voltar


Solo:


Eu sou a Lapa

de encantos mil
Honro São Paulo

Honro o Brasil;
Ontem fui grande

Hoje maior.
E no futuro

Ainda melhor.


Sou também do presente apressado
Alinhada aos mais novos pendores
Em indústria, em comércio, em mercado,
Arte e ciência, tenho altos valores.


Solo: Eu sou a Lapa...


Do porvir nada temo, pois forte
Sempre foi o meu povo operoso
Sei que bela será minha sorte
E o amanhã promissor e grandioso.


Solo: Eu sou a Lapa...


HOMENAGENS


Em 2017, Wilson de Oliveira Jasa, poeta, escritor, jornalista, sonetista e trovador, escreveu um poema em homenagem a Adélia Victória Ferreira.  Wilson Jasa fundou diversas entidades poéticas; também é membro e presidente do Movimento Poético em São Paulo, Casa do Poeta “Lampião de Gás”, de São Paulo etc.


Adélia Victoria Ferreira


Querida Adélia Victória
Ferreira, grande mulher;
tem marcante trajetória,
e sabe bem o que quer.


Na Poesia faz história,
pois num momento qualquer;
cria na sua memória,
melhor verso que puder.


Muitos concursos venceu,
de Poesia e mereceu;
porque Adélia é sumidade.


Foi presidente da Casa
do Poeta e mantém a brasa,
com versos de qualidade.

(1/5/2017)


O poeta e trovador matogrossense do sul Renato Baéz, numa coleção de trovas que escreveu homenageando os principais trovadores do país com os quais tinha amizade, também incluiu Adélia Victória Ferreira:


São autores de obra prima:

Antônio Urbano Ferreira,

Brandina da Rocha Lima

ou Adélia V. Ferreira.


TROVAS SELECIONADAS


Esta seleção de 33 trovas de Adélia Victória Ferreira foi publicada no site “Florilégio de Trovas”, em 2017:


A fantasia é um brinquedo

para instantes enfadonhos:

nos porões varrendo o medo,

na torre embalando os sonhos...


Ao sofrer uma agressão

a terra não choraminga

nem esboça reação,

mas... cedo ou tarde, se vinga…


Circo de lona... de estacas,

pobre, no mundo a vagar...

E nessas bases tão fracas

o riso escolheu morar...


Com a lembrança marcada

por sofrimentos de outrora,

igual à pomba assustada

eu fujo aos sonhos de agora.


Esperança é a caminhante

que, ora animada, ora triste,

vai, teimosa, mais adiante,

quando a Certeza desiste.


Lago imóvel, preguiçoso,

que se espera repousante,

o sempre é um sonho enganoso

que só na perda é constante.


Meu olhar é um girassol,

avidamente a buscar

entre a aurora e o arrebol

o astro-rei do teu olhar!


Minha vizinha é tão feia

que, aparecendo à janela,

o furacão a rodeia

com medo de tocar nela!


Na pinga e de pito aceso,

pega a bela, o Serafim,

que no outro dia vai preso

nos braços de... um manequim,..


Na sala, a rica exibida

mostra o vaso e a amiga exclama:

Mas... esse vaso, querida,

se usava... embaixo da cama!…


No amor não raro acontece

estranha feitiçaria:

quando a vontade aparece

desaparece a energia…


No entrechocar das espadas,

que a ambição maneja a fundo,

como esperar alvoradas,

se a luz é expulsa do mundo?...


No mistério de seus planos

vai, o futuro inclemente,

burilando os desenganos

que irá nos dar de presente!


O grande, na trajetória

que palmilha o a o,

recebe em silêncio a glória

como recebe o fracasso.


O pato, à pata, zangado:

– Qualquer um pode notá-lo!

Aumentas teu rebolado

quando as pelo galo!


O Sábio avança e recua

sobre um mistério esquisito,

onde um termo continua

termo sem termo... Infinito!…


O sol, filetando o olhar,

pelo arvoredo introduz

agulhas para bordar

bailados de sombra e luz.


Para a saudade que anela

voltar à ventura morta,

o ado abre a janela,

mas nunca destranca a porta...


Pelos gênios fascinado,

me indago, com inquietude,

se a inveja será pecado;

se o que se inveja é... virtude..


Por nosso irmão não se conta

quem apenas nos exalta

e, sim, quem também aponta,

censurando a nossa falta.


“Pra que rouge?” – indaga a Tita,

à mãe vaidosa que o aplica.

“Pra que eu fique mais bonita!”

E a filha: “Por que não fica?...”


Quando, mãe, o tempo ingrato

em bruma a lembrança envolve,

bendigo o velho retrato

que teu rosto me devolve!


Quem só conhece negrume

por onde os os conduz,

no piscar de um vagalume

pode aprender o que é luz.


– Raio de bicho malandro! –

o astronauta geme e sua

e a pulga, em seu escafandro,

vai de carona pra lua…


Recorre ao bom-senso e ordena

teu viver, pelo vivido.

O que o ado condena

não deve ser repetido.


Se era às crianças que um vulto

no escuro punha assustadas,

hoje o temor é do adulto

que anda à noite nas calçadas…


Sem o amor, que é fantasia,

a vida, que é realidade,

transporta mala vazia

no rumo da eternidade.


Se os meus juízes confundo

com falsa argumentação,

recebo o perdão do mundo,

mas não meu próprio perdão.


– Se te vais, por gentileza,

deixa a porta sem trancar!

Não me roubes a certeza

de que logo irás voltar!


Silencioso, palmo a palmo,

irreversível, tirano,

o tempo devora, calmo,

todo e qualquer sonho humano...


Sol e sombra na floresta

e uma brisa, erguendo a mão,

rege os comos da festa

de sombra e luz, pelo chão.


Torna um sonho em realidade

e verás, com ironia,

que, por mais que ele te agrade,

foi mais bela a fantasia.


Vivo a sonhar: Quem me dera

que eu, no amor sempre frustrado,

em vez de ficar à espera,

um dia fosse o esperado.


PREFÁCIOS E COMENTÁRIOS


Adélia Victória Ferreira, entre outros, prefaciou os livros:


“Florações da Primavera”, da sonetista Noemise Machado de França Carvalho (1906-2008), destacando [...] “sua cultura lhe permite manejar as riquezas da língua pátria com arte e maestria” e [...] “seu conhecimento musical transmite ao verso cadência perfeita e cativante, eterna em sua poesia. E sua inspiração colhe seixos brutos pelo caminho e os lapida transformando-os em gemas ofuscantes que ela incrusta no diadema dos versos. Noemise é perfeita, é única, é inimitável.”


“Poemas” (Shogun Editora, 1986), de Wanderlino Teixeira [...] "Wanderlino é um poeta filósofo, completamente fora de série ou de escolas. Não copia ninguém, não se submete a formalismos. Tem sua própria e magnífica musicalidade; trata as ideias de forma tão original e graciosa que não pode sequer ser imitado! Isso porque penetra na essência das ideias. Modela-as, lustra-as, e as torna obras de arte com seu raro conhecimento da língua pátria e com seu espírito perspicaz, arteiro, evocando-nos o dos gnomos das antigas lendas." [...]


“Poesias ao Sol” (Edição do Autor, 1984), de Hélio José Déstro, cirurgião-dentista e poeta “Ao iniciar a leitura dos poemas de Hélio José Déstro, não imaginei o que iria encontrar. À medida que avancei, mais e mais me empolguei com a descoberta nos dias de hoje de um espírito poético fantasticamente puro. [...] Hélio deve ser um poeta que para seu carro em meio à maior confusão de trânsito, e, sob impertinentes buzinadas, gritos, imprecações, apitos de guardas, abre a porta e, calmamente, de pé, do lado de fora, escre seus poemas num guardanapo de papel, sobre o capô do carro; ou que para, em meio a um tratamento de canal de dente, para transferir ao papel a poesia que lhe vai na mente, sobre o tipo de reação do paciente... [...].


“Reticências”, do professor Sebas Sundfeld (1924-2015) “Seus trabalhos são de uma versatilidade tal, que, se você, Sebas, fosse mais audaz e multiplicasse as edições, espalhando-as pelo País, estou certa que teriam repercussão internacional.” 


Sobre a poetisa e trovadora Vanda Fagundes Queiroz (autora de “Uma luz no caminho”, “Trajetória”, “Descortinando Poesia”, “Conversa Calada” e “Uma candeia na janela”) “Vanda não precisa de apresentações ou apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”.


TROVAS DISPERSAS


Além das trovas publicadas no livro “Catálise Trovas e Sonetos” (1985), muito da produção poética de Adélia Victória Ferreira está espalhada por dezenas de sites e blogs literários. Conseguimos garimpar as trovas abaixo, com os respectivos créditos:


De madrugada, em surdina,
filha da noite fechada,
surge, faminta, a neblina
e engole as curvas da estrada!


(Menção Honrosa - XVI Concurso Nacional de Trovas do RN, 1996 - Blog Falando de Trova, 1996)


***


No amor não raro acontece

estranha feitiçaria:

quando a vontade aparece,

desaparece a energia...


(Blog Singrando Horizontes, 2016)


***


Saudade é tarde chorando

um tempo em que foi aurora,

ao ver a noite levando

o brilho do sol embora.


(“Trovia”, Revista Virtual de Trovas,  nº 147, março/2012)


***


Ao sofrer uma agressão

a terra não choraminga

nem esboça reação,

mas… cedo ou tarde, se vinga…


(Antologia Poética de Pinheiros - Vol. VIII)


***


Dia da Bandeira - 19 de novembro


Ama, criança, a Bandeira,

e, por onde quer que vás,

toda a Terra brasileira

no teu peito encontrarás!


(“Tribuna do Norte”, Pindamonhangaba, nº 8.444, de 13/11/2014)


***


Dá, mãe, calça comprida

e, num trauma repentino,

vê que a pessoa crescida,

lhe roubou o seu menino...


(9º lugar, Concurso Nacional de Trovas da UBT, 1999)


***


Tiradentes (Liberdade)


Sem laços, independentes,

os seus elos, à vontade,

mão se submete a correntes,

a essência da Liberdade!


(“Adepom News”, nº 126, abril/2013).


***


Lutemos pela defesa

Das matas e de ar mais puro!

Só o respeito à Natureza

Pode nos dar um futuro!


(“Seleções em Folha”, nº 2, fevereiro/2002)


***


Se a velhice tem direito

de, ao sonho e às forças, dar fim,

por que não mata, em meu peito,

o jovem que existe em mim?...


O grande, na trajetória

que palmilha o a o,

recebe em silêncio a glória

como recebe o fracasso.


(Revista Trovar, nº 145, janeiro/2017)


***


Já o cantei pra nós dois

Mas isso foi no ado

Já que assim é, seja assim

Já me esqueceste depois


Já cada qual tem seu fado

O mais feliz é o teu, tenho a certeza

É o fado da pobreza

Que nos leva à felicidade


Se Deus o quis

Não te invejo essa conquista

Porque o meu é mais fadista

É o fado da saudade


(Folhetim Literário Desiderata, nº 4)


***



Sedenta do teu carinho,
imagino em sonhos vãos,
tuas mãos tecendo um ninho
para aninhar minhas mãos...


(Blog de Airton Soares)


***


Saudade é tarde chorando
um tempo em que foi aurora,
ao ver a noite levando
o brilho do sol embora.


(Balaio de Trovas)


***


Em jogo triste ou risonho

e sempre em contrapartida,

a vida alimenta o sonho

e o sonho alimenta a vida.


(Blog Filemon Martins, 2016)


***


Certeza


Se te vais, por gentileza,

deixa a porta sem trancar...

Não me roubes a certeza

de que logo irás voltar!


(Blog Pedro Melo)


***


Julguei-me livre da cobra,
qual não foi a decepção
vendo, ilesa, minha sogra
no olho do furacão!...

Minha vizinha é tão feia
que, aparecendo à janela,
o furacão a rodeia
com medo de tocar nela!


(Menções honrosas no XVI Jogos Florais de Bandeirantes/PR)


***


Minha mulher tanto embirra
que os vizinhos ao porão
se recolhem se ela espirra,
com medo de furacão!


(Falando de Trova, 1999)


***


Esperança é a caminhante
que, ora animada, ora triste,                      
vai, teimosa, mais adiante,
quando a Certeza desiste. 


(Conc. Elos Club ABC 2000)


***


Para a saudade que anela                        
voltar à ventura morta,
o ado abre a janela,
mas nunca destranca a porta...


(Pindamonhangaba, 2000)


***


O auxílio cristão atua
com a maior discrição,                                     
indo da concha da tua
para a concha de outra mão.


(Itanhaém/SP, 1999)


***


Torna um sonho em realidade                       
e verás, com ironia,
que, por mais que ele te agrade,
foi mais bela a fantasia.


(Barra do Piraí, 1999)


***


No entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,               
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?...


Por nosso irmão não se conta
quem apenas nos exalta
e, sim, quem também aponta,
censurando a nossa falta.


(Vencedora Pouso Alegre, 1995)


***


Quando, mãe, o tempo ingrato      
em bruma a lembrança envolve,
bendigo o velho retrato
que teu rosto me devolve!


(3º lugar Nova Friburgo, 1993)
 

***


Circo de lona... de estacas,          
pobre, no mundo a vagar...
E nessas bases tão fracas
o riso escolheu morar...


(Co-vencedora em Rio Novo/MG - 1992)
 

***


Silencioso, palmo a palmo,   
irreversível, tirano,
o tempo devora, calmo,
todo e qualquer sonho humano... 


(“Calma” - Menção honrosa em Rio Novo (MG), 1988)


***


A fantasia é um brinquedo
para instantes enfadonhos:
nos porões
varrendo o medo,       
na torre
embalando os sonhos...


Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os comos da festa
de sombra e luz, pelo chão.


O grande, na trajetória
que palmilha o a o,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso. 


Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
o sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.


 Se te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar.

Não me roubes a certeza     
de que um dia irás voltar!


(Menção Especial em Niterói, 1986)


***


O iludido não se cansa
de aceitar gostosamente,
os convites da esperança,
mesmo ao saber que ela mente...


No entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?


(1º lugar Nova Friburgo, 2002)


***


O sol, filetando o olhar,      
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.


Se os meus juízes confundo
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.       

        

 Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os comos da festa
de sombra e luz, pelo chão.


O grande, na trajetória
que palmilha o a o,
recebe em silêncio glória
como recebe o fracasso.           

    

Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.


(Menção especial São Paulo, 1986)


***


Se te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar.
Não me roubes a certeza     
de que um dia irás voltar!


(1º lugar - Nova Friburgo 2002)


***


O iludido não se cansa
de aceitar gostosamente,
os convites da esperança,
mesmo ao saber que ela mente...


No entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?


O sol, filetando o olhar,     
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.


Se os meus juízes confundo
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.        

       

 Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os comos da festa
de sombra e luz, pelo chão.


O grande, na trajetória
que palmilha o a o,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.              


Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.


(Menção Especial - São Paulo 1986) 


***


Por uma estranha ironia,

difícil de se explicar

não há maior alegria

que aquela que faz chorar.


(Blog de Lavras de Palavras, 2016)


***


Com a plangência de um sino
que anima a oferta da prece,
Fêgo Camargo é o violino
que Taubaté não esquece!


(4ª Menção honrosa - VII Concurso de Trovas de Taubaté, 1988 - Blog Falando de Trova)


***


É nas horas de fraqueza,

quando o medo em mim flutua,

que a minha mão sem firmeza

navega, buscando a tua.


(1º lugar II Concurso Assoc. R. F. Vilas de Portugal-SP, 1992 - Blog Falando de Trova)


***


Carona


Formiga, evite a carona
que lhe oferece o elefante!
Sabe lá o que ele ambiciona
quando chegar adiante?...


(5º lugar VIII Jogos Florais de Resende-RJ, 1987) - Blog Falando de Trova)


***


Meigo animal, sob a canga,
lavra o campo e, em vai-e-vem,
leva um sino que se zanga,
na zanga que o boi não tem...


(Menção especial - XIV Jogos Florais de Niterói-RJ, 1984 - Blog Falando de Trova).


Sobre o dilúvio, a boiar,
o Mal entre as ondas erra
e, antes da barca atracar,
repõe as garras na Terra.


(21º lugar II Concurso de Trovas da ABT, 1992 - Blog As Memórias de Dimas)


Bendiz teu chão, de mãos posta,

por ser terra boa e sã,

se ele te traz, em resposta,

de uma semente a maça!


(Jornal O Pioneiro de Caxias do Sul, 117, 19-4-1986)



O AUTOR

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: [email protected]



(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).




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