Em 2 de novembro, é comemorado, em todo o mundo, o Dia de Finados, dedicado ao culto das almas. Essa data, instituída no século X por Santo Odilon, abade de Cluny, na França, merece uma reflexão mais demorada. Como era encarada a ideia da morte no Vale do Ribeira ao tempo da Colônia e do Império? Pesquisando velhos alfarrábios carcomidos pelas traças, e apoiado em livros de renomados historiadores, é possível lançar alguma luz sobre esse assunto.
A morte era vista não como o “fim da vida”, mas como uma “agem” para a “vida eterna”, mesmo com a tristeza representada pela perda de entes queridos. Era comum, quando alguém morria, se enviar à família carta de felicitação pela “agem à vida eterna” do falecido; a morte, portanto, era aceita como algo até mesmo feliz.
Geralmente, os enterros eram feitos à noite. Ao cortejo comparecia toda a família, seguida pelas carpideiras (mulheres contratadas especialmente para chorar nos enterros), e também pelos escravos, que choravam pela morte do senhor, mas também pela incerteza de seu futuro, pois certamente, feita a partilha dos bens, seriam vendidos a outros senhores.
Havia uma estreita e até mesmo promíscua intimidade entre os vivos e os mortos, que eram enterrados, às vezes, dentro das próprias residências e, mais comumente, sob os assoalhos de madeira das igrejas. Existem registros de sepultamentos de pessoas que foram enterradas sob o assoalho da antiga Igreja de Nossa Senhora das Neves de Iguape (construída de 1614 a 1637, e afinal demolida em 1858 por se encontrar em completa ruína). Esse costume também foi seguido depois da inauguração do novo templo, dedicado ao Bom Jesus, que ou a realizar ofícios religiosos a partir de 8 de agosto de 1856.
Esse costume – que hoje pode ser considerado mórbido – começou a despertar a atenção dos higienistas a partir do século XIX, que bradavam aos quatros cantos: “até quando persistirá a triste prerrogativa dos mortos envenenarem a vida dos vivos">